Como os pais podem colaborar na construção da estrutura emocional dos seus filhos com base na avaliação do perfil comportamental parental?
Os tipos de perfil de pais são quatro: autoritário, permissivo, democrático e negligente.
O tipo autoritário é aquele pai ou mãe que educa por meio do autoritarismo, da opressão e do medo. Fazem com que os filhos obedeçam, cumprindo regras sem justificativas ou explicações. Dizem frases do tipo: “vai fazer porque eu estou mandando”, “quem manda aqui sou eu” e por aí vai...
No modelo autoritário, o espaço para conversas ou troca de opiniões é restrito. E mesmo se tratando de crianças pequenas, não há nenhuma tentativa de diálogo, o que pode causar vários danos à criança, que se tornará um adulto agressivo, antissocial e mentiroso.
Nosso córtex cerebral tem dois hemisférios ou duas metades, cada uma com funções e habilidades distintas. Pais muito autoritários não têm uma boa integração entre os dois hemisférios. Neste estilo, predomina o hemisfério esquerdo, que é literal, lógico, linear e linguístico. Esse modelo autoritário é o que chamamos na neurobiologia interpessoal de “rígido”.
E quais os riscos para a criança? Como, geralmente, os pais recorrem à punição a criança acaba tendo como, consequência, um dos 4 'Rs' : ressentimento, rebeldia, retaliação ou recuo.
Em termos de desenvolvimento cerebral, esse tipo de parentalidade rígida e autoritária afeta a autoconfiança da criança, já que os pais autoritários têm que garantir sempre a última palavra e não dão espaço para a criança se expressar e se desenvolver.
A neurociência explica que, como essas crianças vivem sob estresse, podem ter um aumento do nível de cortisol elevado, que afeta diretamente o desenvolvimento estrutural do cérebro e como a criança não tem seus sentimentos e emoções reconhecidos, afeta sua inteligência emocional.
Muitas vezes, os pais autoritários acabam estimulando as reações mais instintivas da criança, as funções do cérebro primitivo que seriam: fugir, lutar, congelar ou desmaiar ou apagar. Podemos observar, claramente, essa reação pela resposta da criança ao sermão ou castigo.
A criança é frequentemente ensinada a não demonstrar seu sentimento com frases do tipo: “engole esse choro, menina” “homem não chora”, “isso não é nada”.
Muitos pais têm dificuldade em demonstrar e lidar com as próprias emoções, porque foram criados nesse estilo.
Mas um dos fatores importantes de descobrirmos nosso estilo de parentalidade é fazer essa viagem para dentro de nós mesmos e descobrirmos as nossas emoções, sentimentos e por que reagimos às situações de determinada forma.
O estilo permissivo, por sua vez, é compreensivo, tolerante e afetuoso em excesso. Neste modelo tudo pode, porque não há exercício da autoridade graduada que é permitida aos pais, nem limites.
Crianças educadas com permissividade não são preparadas para os problemas na fase adulta, porque acreditam que podem tudo, inclusive passar por cima dos outros.
Não sabem tomar decisões e não possuem senso de autorresponsabilidade.
É muito comum vermos os pais adotarem esse tipo de parentalidade na tentativa de criar um espelho no próprio filho e se tornarem amigos em excesso.
Esse estilo de parentalidade é chamado de “caótico”, porque não tem ordem, limite, organização. É só emocional, que são características do hemisfério direito, que é holístico, não verbal, visual, lê posturas e gestos e é mais conectado com as emoções.
Os pais permissivos, além de não terem regras, tentam poupar seus pequenos das frustrações e de todo e qualquer sofrimento.
Acreditam que dizer não e colocar limites é prejudicial para o desenvolvimento da criança, mas isso é uma visão que chamo de “miopia parental”. Falam frases do tipo: “quando ela crescer ela aprende” – como se a criança pudesse aprender por si mesma.
Em termos de desenvolvimento, essas crianças não aprendem a lidar com frustrações e nem com suas emoções. Não desenvolvem o cérebro na parte primitiva e emocional, e, frequentemente, continuam tendo crises de birra, mesmo quando adolescentes e até na fase adulta. Crescem sem o sentido de autoridade, como se fossem reis e rainhas e acham que os pais e os outros existem para lhes servir. Ficam egoístas, autocentrados, egoicos, fracos e mimados.
Existe uma grande diferença entre dar amor (já que afeto e vínculo são fundamentais para o desenvolvimento) e mimar (fazer todas as vontades e poupar de toda frustração). São atitudes distintas.
As crianças criadas por pais permissivos apresentam dificuldade de se adaptar à vida adulta. Não aceitam críticas e não lidam bem com autoridade, tendo, frequentemente, problemas com trabalho e níveis hierárquicos. Como aprenderam a “usar” as pessoas, para conseguir o que querem e têm dificuldades de criar vínculos verdadeiros, tendem a manipular as pessoas.
Já o estilo democrático se aproxima bem de um modelo com foco na liberdade de expressão e ação, desde que haja um consenso entre pais e filhos. Faz uso da escuta ativa, da empatia e amplia a conexão com a criança.
Baseia-se no conceito da disciplina positiva que é a educação com firmeza e gentileza.
Manter um canal aberto com os pequenos, não só facilita a convivência, como estimula o desenvolvimento da inteligência emocional da criança.
Crianças educadas nesse modelo são adultos mais tranquilos, participativos, assertivos e corajosos, para enfrentar os desafios futuros. Possuem baixo risco de apresentar alguma disfunção comportamental ou psicológica.
É importante falar, que, alguns pais, na tentativa de chegar a um caminho do meio, às vezes, oscilam entre a permissividade e o autoritarismo. São permissivos, até que se cansam, se irritam e, de repente, sofrem um “surto” autoritário.
O estilo democrático de parentalidade é o mais social-democrata, já que o os pais, na figura do “estado e líderes dos filhos”, devem interferir, quando o interesse for o bem-estar da criança. Esse caminho do meio foi proposto pelos psicólogos austríacos Alfred Adler e Rudolf Dreikurs, e foi aprimorado na abordagem da disciplina positiva por Jane Nelsen, professora e escritora norte-americana e, cujos benefícios são corroborados pela neurociência.
As ligações afetivas e o vínculo saudável são fundamentais para o desenvolvimento infantil, assim como a interação com seus cuidadores, sejam pais, professores, avós ou babás.
A criança aprende pela experiência e precisa do direcionamento do adulto, para aprender a identificar, nomear e controlar seus sentimentos e emoções e desenvolver as habilidades de vida.
O perfil negligente, por outro lado, é aquele tipo de nem negocia nem proíbe, mas apenas ignora a criança e as situações, se isentando assim, da responsabilidade de educar e de tomada de decisão. Pode ocorrer um jogo de “empurra” quando o pai delega a decisão para a mãe ou vice versa. A criança cresce sem parâmetro educacional.
A parentalidade negligente não é afetiva nem responsiva porque mantém os filhos à distância. Além disso, o fato de serem negligentes pode até causar danos à saúde da criança e erro por omissão por privação de cuidados essenciais, como alimentação.
Mas a negligência nem sempre se apresenta da forma mais óbvia, com aquela criança "sujinha" e desnutrida. Há outras formas de negligência e a emocional também é muito cruel. Pais que até tem os cuidados físicos e cognitivos básicos com os filhos (alimentam, vestem, mandam para a escola) mas não vinculam com a criança, são desatentos.
Quantas vezes não vemos as crianças tentando conversar com os pais e cada um com a cabeça enterrada em seu celular? Muitas vezes parecem permissivos, pois deixam a criança fazer o que quiser para não terem trabalho (é mais fácil responder que “pode” do que parar o que está fazendo e dar atenção à criança).
Quando pais “terceirizam” a educação e cuidados dos filhos de forma excessiva e praticando abandono, também, pode fazer com que seus filhos se sintam “largadas” pelos pais. Dan Siegel, norte-americano, professor da universidade de universidade da Califórnia, em Los Angeles e psiquiatra especialista em desenvolvimento do cérebro infantil e adolescente, faz uma analogia da parentalidade com um rio, que no centro flui suavemente e sem solavancos, quando estamos “equilibrados” e nossa canoa está fluindo suavemente nesse rio.
Em uma das margens está a rigidez, o controle excessivo e falta de flexibilidade. Na outra margem há a total falta de controle. O desafio é navegar nesse rio, buscando encontrar a constância e a fluidez. Podemos oscilar entre as margens, não há problema, mas o importante é manter o equilíbrio entre as margens. Para fluirmos tranquilos pelo meio do rio e sabermos voltar para ele, quando batemos em alguma margem, é necessário um trabalho de autoconhecimento e aprimoramento da nossa auto regulação.
Pais que conseguem se manter equilibrados são chamados de pais de integrados.
O ponto importante a ressaltar é que disciplinar é ensinar e que a criança só está apta a aprender, quando seu cérebro está integrado. Nos momentos de estresse, os pais podem ajudar a seus filhos a se acalmarem, e só quando estiverem calmos e integrados podem ensiná-los.
Entender esses conceitos de desenvolvimento, os mecanismos e ferramentas que temos para dar a eles essa educação afetiva e funcional, são a base para uma parentalidade integrada e positiva que vai resultar em adultos empáticos, resilientes e emocionalmente saudáveis.
Ponto de atenção é a não polarização compensatória. Pais que optam por exercer um estilo de parentalidade oposto ao que receberam. Um pai que recebeu educação autoritária escolhe fazer diferente e adota um estilo permissivo, por exemplo.
Se tivéssemos que escolher o passo mais importante para o exercício de uma parentalidade positiva, eu diria que é o melhor caminho conhecer a si mesmo, porque assim, aprenderemos a lidar com nossas emoções e as dos nossos filhos.
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Lembro que a Academia de Pais Conscientes também está no YouTube, no Instagram, nas plataformas de podcast como o Spotify, Apple, Google , no Telegram e no Facebook.
Não escolhemos a forma como fomos educados, mas podemos decidir como vamos educar nossos filhos. E aí, qual a sua escolha?
Forte abraço e até o próximo artigo!
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